Prevenção da doença dos legionários

Análise comparativa dos Sistemas de Tratamento Existentes

"O Ozono inativa instantaneamente a bactéria Legionella. Contudo, tem um período de vida curto"

A Legionella é considerada uma bactéria ambiental, e o seu nicho natural são águas superficiais como lagos, rios, nascentes, zonas de água estagnada e águas subterrâneas. Este bacilo Gram negativo está normalmente presente em concentrações baixas, não excedendo na maior parte dos casos as 10 células por litro.

A partir destes ambientes naturais pode colonizar os sistemas artificiais de abastecimento de água a grandes cidades, incorporando-se nas redes prediais de água quente e fria, nos sistemas de arejamento, ventilação, aquecimento e climatização (AVAC) dos grandes edifícios, tais como empreendimentos turísticos, escritórios, centros comerciais e hospitais, sempre que encontre as condições favoráveis à sua multiplicação.

Entre as condições que favorecem a multiplicação da Legionella conta-se a presença de nutrientes, a formação de biofilmes, a ocorrência de pontos mortos ou de estagnação de água na rede, temperaturas entre 25 e 50ºC e  a existência de produtos resultantes da corrosão.

Legionelose

A legionelose é uma infeção bacteriana aguda, cujo agente etiológico é a bactéria Legionella, que pode originar duas entidades clinicas e epidemiologicamente distintas: a doença dos Legionários, também denominada pneumonia dos Legionários ou “legionelose pneumónica” (CID-10. A48.1) e a febre de Pontiac ou “legionelose não pneumónica” (CID-10: 48.2)

A Doença dos Legionários é potencialmente epidémica, com uma taxa de letalidade elevada (5 a 30% dos casos) e pode apresentar sintomas semelhantes a outras formas de pneumonia, sendo por isso de difícil diagnóstico. Os sintomas começam normalmente 2 a 14 dias após a exposição à bactéria e podem incluir febre alta (superior a 39ºC) arrepios e tosse seca, pneumonia focal e sintomas gastrointestinais.

A febre de Pontiac é uma doença benigna, afeta 90 a 95% das pessoas expostas indiscriminadamente (período de incubação 2 a 6 dias). Tem como sintomas mal-estar, fadiga, mialgias, febre e cefaleias. A recuperação ocorre em 2 a 5 dias sem qualquer tratamento.

Conhecem-se até à data 51 espécies de Legionella, e cerca de 64 serogrupos já foram identificados, associando-se, pelo menos 20 deles, a estágios patológicos em humanos, portanto só estes poderão vir a causar doença em pessoas que venham a estar expostas à água contaminada.

Destas espécies e serogrupos a Legionella pneumophila serogrupo 1 é a responsável pela maior parte dos casos (cerca de 80%).

Uma das características importantes desta bactéria é a sua capacidade de crescer e de se multiplicar em ambiente intracelular, aproveitando o auxílio metabólico do hospedeiro, tanto em protozoários como em macrófagos humanos (glóbulos brancos), constituindo o primeiro o reservatório natural deste organismo no ambiente.

Em ambientes aquáticos naturais e artificiais como instalações de edifícios, a presença de protozoários e de algas desempenha um papel importante suportando o seu mecanismo de sobrevivência em condições ambientais desfavoráveis.

A infeção transmite-se por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água (aerossóis) contaminadas com bactérias. Não se transmite de pessoa a pessoa, nem pela ingestão de água contaminada. Existem contudo alguns casos associados à aspiração seguida de ingestão de água contaminada.

Devido ao seu período de incubação, pode, pois, acontecer que a doença só se manifeste depois do viajante ter regressado a casa. Há que realçar o facto de um caso só poder ser considerado associado a viagens quando o doente passou pelo menos uma noite fora de casa nos dez dias anteriores ao início da doença. Porém, nestas situações, o empreendimento turístico onde o doente pernoitou não pode ser implicado, com toda a certeza, como fonte de infeção. Considera-se como um elemento a ter em atenção na investigação epidemiológica e não um dado adquirido como prova inquestionável.

A doença afeta preferencialmente pessoas adultas com mais de 50 anos de idade (duas a três vezes mais homens do que mulheres), sendo raríssima em indivíduos abaixo dos vinte anos.

Ser fumador é um fator de risco, já que esta doença atinge em especial fumadores. São igualmente fatores de risco, doenças crónicas debilitantes (alcoolismo, diabetes, cancro, insuficiência renal) ou ainda doentes imunocomprometidos, que tomem medicação com corticoides ou estejam a ser sujeitos a quimioterapia.

Não existe vacina contra a doença dos legionários.

A doença dos legionários é, assim, uma pneumonia bacteriana grave que implica a adoção de medidas especiais de alerta e de intervenção sempre que ocorra em grandes edifícios.

É importante no entanto distinguir a situação de colonização dos sistemas de água por bactérias do género Legionella, da ocorrência de um caso de doença dos legionários.

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Artigo completo na edição nº 55


Autor: Paulo Diegues, é Formado em Engenharia do Ambiente, Ramo Poluição. Entre outras actividades, trabalhou na Lusagua SA, em exploração de Estações de Tratamento de Águas Residuais, foi responsável da Divisão de Operação e Manutenção nos Serviços Municipalizados de Setúbal. Colaborou na Divisão de Saúde Ambiental da DGS. Dedicou-se a desenvolver vários tra­balhos na área da Doenças dos Legionários, como autor, com o livro “A Doença dos Legionários na área hoteleira”, e formador. Participou na elaboração de Normas sobre a Doença dos Legionários. É chefe de Divisão de Saúde Ambiental e Ocupacional na Direcção-Geral da Saúde.

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