Medicina Nuclear Clínica: A história no mundo e em Portugal

  • 21 julho 2025, segunda-feira
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Escrever e descobrir como e quando se iniciou a prática da Medicina Nuclear Clínica cria sempre a expectativa de um emaranhado e intrincado historial de factos e facetas na área da descoberta e do desenvolvimento das ciências básicas que nos transportaram ao amadurecimento de conceitos da aplicabilidade clínica de isótopos na Medicina.

A Medicina Nuclear começa com a descoberta do fenómeno radioactividade em 1896 por Henry Becquerel.

Este avanço seria seguido pela descoberta e isolamento de elementos emissores de radiação como o Polónio e o Rádio. Nomes como Joliot, Rutherford, Bohr, Wilson, Compton, Urey, Chadwick, Hevesy, Lawrence e Fermi encontram-se indelevelmente ligados a descobertas científicas na área da Física, as quais proporcionaram um acréscimo de conhecimento que potencializou o desenvolvimento e a respectiva utilização na Medicina.

Muitos deles estão presentes numa foto dos participantes do congresso de Física em Solvay (Paris) no ano de 1927, e medalhados com o Prémio Nobel.

Nos EUA, no ano de 1923, Hevesy mediu a acumulação de um isótopo de chumbo em diversas partes de plantas como indicador do metabolismo de cálcio. Os investigadores usavam espectroscópios de folhas de ouro para medições usando traçadores radioactivos. Hevesy foi pioneiro na utilização de 32P, obtido a partir de uma fonte de neutrões fornecida por Niels Bohr, para estudos do metabolismo do fósforo. Pelos factos assinalados, Hevesy é por muitos considerado o “avô” da Medicina Nuclear.

Uma das figuras que se destacou na história da especialidade foi Herrman Blumgart. Como cardiologista experiente treinado em Harvard, interessou-se pela utilização do rádium C como meio de estudo do fluxo sanguíneo. Com o surgimento do contador de Geiger Muller em 1932, Blumgart determinou o tempo de circulação braço direito-braço esquerdo (18 seg.), o qual estaria com valor mais elevado nos doentes com patologia cardíaca. Utilizando a mesma metodologia e com a escolha meticulosa da colocação de detetores, Blumgart calculou o tempo de circulação sanguínea pulmonar e também o volume sanguíneo pulmonar para estudo destes parâmetros em doentes com doença cardíaca, doença tiroideia e anemia.

Neste contexto, Blumgart é considerado o “pai” da Medicina Nuclear.

A descoberta dos tubos de Geiger Muller, bem como a descoberta do neutrão (Chadwick) e a descoberta do deutério (Urey), em 1932, introduziram uma nova era na investigação científica, conduzindo-nos às descobertas de Irene Curie e Frederic Joliot, com experiência de bombardeamento de núcleo, provocando transmutações com aparecimento de novos elementos emissores de radiação; também Fermi experimentou a exposição de urânio a neutrões. Em 1939, Hahn e Stassmann descobrem o processo de fissão que conduziu ao projecto de Manhattan, com a subsequente produção de energia atómica para fins militares.

Em 1936, Lawrence foi o primeiro a utilizar o 32P no tratamento da leucemia. Em 1937 Livingood e Seaborg produzem 131I em ciclotrão, o que conduz, em 1953, à sua utilização em gamagrafia da tiroide, realizada em aparelho de gamagrafia linear, descoberto por Curtis e Cassen. É produzido comercialmente pela Picker Corporation em 1960.

Em 1958, Hal Anger constrói a primeira câmara de cintilação. Os anos 60 dão início à intensificação de estudos, com o acréscimo de indicações da Medicina Nuclear Clínica. Gamagrafias e cintilografias tiroideias, cerebrais, hepato-esplénicas e ósseas, juntamente com estudos de renografia, fazem parte da rotina diária dos centros que trabalhavam em radioisótopos. (...)

Por Jorge Gonçalves Pereira
Licenciado em Medicina e Cirurgia
Foi Diretor de Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de São João e Presidente do Colégio de Medicina Nuclear da Ordem dos Médicos

Leia o artigo completo na TecnoHospital nº 129, maio/junho 2025, dedicada ao tema "Imagiologia - Parte III"

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