"Não é possível falar em integração de cuidados, quando não houve integração administrativa"
- 10 março 2025, segunda-feira
- Gestão

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José Luís Biscaia juntou à experiência clínica a administrativa, quer no seu ACeS, na Direção-Geral de Saúde ou no desenvolvimento de sistemas informáticos de apoio ao ato clínico. Considera que o atual modelo de integração falha por não se centrar no doente. Combater o hospitalocentrismo e dotar as USF de mais meios é, para o especialista em Medicina Geral e familiar, uma parte do caminho para uma melhor gestão dos cuidados de saúde.
Entrevista por Abraão Ribeiro, João Durão Carvalho, Paulo Salgado e Cátia Vilaça
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Nasci na Figueira da Foz. Fiz a licenciatura em Medicina em 1979 e comecei o exercício profissional em 1980. Optei pela especialidade de Medicina Geral e Familiar e a partir de 1987 fiquei a trabalhar na Figueira da Foz. Estou neste momento ‘sem vínculo contratual’, forma diferente de dizer que estou aposentado. Na Ordem dos Médicos pertenci aos corpos dirigentes, fui vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e fundador da Associação Nacional das USF. Fui diretor de um centro de saúde de 1990 a 1992 e subdiretor geral de Saúde no mandato da ministra Maria de Belém, quando Constantino Sakellarides era diretor-geral. Participei na reforma dos cuidados de saúde primários, construindo uma das primeiras USF e integrando os grupos de acompanhamento e conselhos estratégicos. Terminei a minha vida profissional como diretor executivo do ACeS Baixo Mondego, antes da sua extinção, com a criação das ULS Coimbra e Baixo Mondego. Estive sempre ligado a projetos de transformação digital e à área dos sistemas de informação. Ajudei a desenvolver um processo clínico eletrónico chamado Vitacare, que depois, por opções da nossa administração, quase foi fechado em Portugal, e entretanto foi transferido para o Brasil.
Essa atividade tecnológica foi em algum momento desenvolvida em colaboração com os SPMS ou autonomamente nos locais onde trabalhava?
Autonomamente. Havia três softwares – o SCliníco, o Medicine One e o Vitacare. O Vitacare e o Medicine One foram criados por empresas de Coimbra, no contexto do Instituto Pedro Nunes, e ambos eram muito mais evoluídos do que o SClínico em termos de processo clínico eletrónico. Outro projeto muito interessante, em 2013-2015, foi a construção do BI das USF, que depois passou para BI dos Cuidados de Saúde Primários (CSP). A ideia foi construir um portal que tivesse toda a informação, um dispositivo de gestão de conhecimento que permitia às unidades saber o que estava a acontecer, o que fazemos, como é que medimos, como contratualizamos, etc. Foi um projeto feito apesar dos SPMS, como digo a brincar, e que depois foi internalizado no Ministério da Saúde e atualmente está em vias de extinção (...)
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