Entre a urgência e a oportunidade
- 20 outubro 2025, segunda-feira
- Gestão

FOTOGRAFIA: TUNGNGUYEN0905/ PIXABAY
A necessidade de reformar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal tem sido, ao longo dos anos, tema recorrente em discursos políticos, estudos técnicos e preocupação cívica. Contudo, mais do que uma urgência motivada por dificuldades conjunturais, como a carência de profissionais ou os tempos de espera elevados, a reforma do SNS é hoje uma oportunidade para repensar o modelo de prestação de cuidados, a sua organização interna e o papel dos seus profissionais.
A competência técnica e dedicação dos profissionais de saúde estão lado a lado com as fragilidades estruturais que vêm sendo acumuladas há décadas. Faltam profissionais em número suficiente, persistem desigualdades no acesso aos cuidados e os modelos de gestão continuam muitas vezes ancorados em lógicas excessivamente burocratizadas e pouco eficazes.
A reforma do SNS exige, antes de tudo, uma visão. Uma visão que assuma o sistema de saúde como um pilar do desenvolvimento humano e territorial, que valorize a prevenção da doença, a promoção da saúde e a continuidade dos cuidados. Esta visão deve traduzir-se em escolhas políticas concretas, capazes de reforçar o caráter universal, tendencialmente gratuito e de qualidade do SNS, mas também de o tornar mais eficiente, centrado nas pessoas e nos resultados em saúde. Esta mudança estrutural implica um compromisso transversal entre decisores políticos, profissionais e utentes, com uma visão integrada e de longo prazo.
Um dos eixos centrais dessa reforma tem de ser a organização dos cuidados de saúde primários. Mais do que portas de entrada no sistema, estas unidades devem ser verdadeiros centros de gestão da saúde da população, com autonomia funcional e capacidade de resposta alargada. A aposta em equipas multidisciplinares, no alargamento de competências dos diferentes grupos profissionais e na articulação com as respostas sociais é decisiva para garantir cuidados mais próximos, preventivos e adequados às necessidades das comunidades. Só assim se pode reduzir a pressão sobre os hospitais e construir um sistema de saúde sustentável, baseado em proximidade e acessibilidade. (...)
Autor: Luís Filipe Barreira
Bastonário da Ordem dos Enfermeiros
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