Entrevista a Rosa Valente de Matos

  • 01 março 2021, segunda-feira
  • Gestão

Rosa Valente de Matos fala-nos da importância do planeamento estratégico em Saúde, em contexto pandémico. A presidente do Conselho de Administração do CHULC explica também de que forma a tecnologia e o trabalho em rede contribuem para a melhoria dos cuidados prestados.

Entrevista por Abraão Ribeiro, Durão Carvalho, Nelson Baltazar e Cátia Vilaça

Fale-nos um pouco do seu perfil.

Nasci em Avanca, no concelho de Estarreja, e estudei no liceu de Ovar. Licenciei-me em Sociologia e depois fiz o curso de Administração Hospitalar. Comecei logo a trabalhar no Hospital de Évora, e tive oportunidade de trabalhar com pessoas que marcaram muito a minha vivência como administradora hospitalar. Fui responsável pelas áreas hoteleiras, admissão de doentes e recursos humanos. Fiquei também responsável, como adjunta do administrador delegado, pela integração dos centros de saúde mental, numa época em que a Psiquiatria começava a ser reorganizada. Entretanto, fui convidada para integrar a ARS Alentejo, como vogal do Conselho de Administração, e estive lá durante seis anos. Comecei a trabalhar mais diretamente com os cuidados de saúde primários e a perceber a importância da integração de cuidados. Houve lugar à construção de alguns centros de saúde e tiveram início os processos de contratualização de cuidados de saúde com os hospitais e com os cuidados de saúde primários. Quando regressei ao hospital, passados seis anos, deparei-me com algumas mudanças, como a externalização de certos serviços, o que me deu oportunidade de inovar em alguns aspetos de gestão. Quando o Professor Correia de Campos assumiu o Ministério da Saúde, convidou-me a regressar à ARS, desta vez como presidente.  Estive lá novamente durante seis anos e nesse período construímos vários centros de saúde por todo o Alentejo e remodelámos outros. Implementámos a rede de cuidados continuados integrados e os rastreios de base populacional no Alentejo e informatizámos todos os centros de saúde e hospitais.

Regressei ao hospital e, entretanto, passei também pela Saudaçor, onde dei início aos processos de informatização e de contratualização, entre outros.

Em 2016 assumi a presidência da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, onde me deparei com a grande falta de condições de alguns centros de saúde. Nesse período foram finalmente implementados os rastreios de base populacional, de que já se vinha a falar há cerca de 20 anos, e a renovação do parque de centros de saúde.

Foi responsável por uma das primeiras estratégias de telemedicina do país e pelo programa funcional que vai agora ser implementado no Hospital Central do Alentejo. Fale-nos um pouco desses projetos especiais em que esteve envolvida.

Eu acho que não há projetos especiais; especiais são as pessoas. Tenho orgulho nas pessoas com quem trabalhei e que se deixaram liderar por mim.

O Alentejo foi das primeiras regiões a ter projetos de telemedicina, sobretudo na área da Dermatologia. Na altura havia apenas um dermatologista para o Alentejo inteiro, mas através da colocação de câmaras (ainda nos anos 90 e, portanto, com pouca resolução) nos centros de saúde foi possível proceder ao telerrastreio e cobrir a região toda. Tudo isto obedecia a um processo, não funcionava avulso. O hospital de Évora foi também dos primeiros a ter telerradiologia. Durante a noite não havia radiologistas na urgência, e deste modo passámos a ter a capacidade de enviar a imagem e de ter apoio. Não havia presença física, mas em 15 a 20 minutos tínhamos o relatório do exame, o que nos permitia tratar o exame sem ter de o enviar para outra unidade hospitalar.

Nos Açores, começámos também a informatização dos centros de saúde e a implementação de projetos de telemedicina, porque os Açores têm tudo para que a telemedicina vingue e traga muitas mais-valias para a saúde dos açorianos. Guardo excelentes memórias e aprendizagens do trabalho realizado no Açores, onde construímos uma equipa que desenvolveu projetos muito interessantes para responder às necessidades específicas das pessoas que vivem naquelas ilhas.

Como é que se compatibiliza esta necessidade premente da telemedicina com a humanização dos cuidados e a relação médico-doente?

Acho que a telemedicina é um instrumento para responder às necessidades e expectativas das pessoas e que, se for bem utilizada, pode até reforçar a relação médico-doente. Dou-lhe a experiência deste momento da pandemia. Este hospital, em março, fechou tudo. Mantivemos alguns serviços, mas no período de confinamento muita gente foi para casa, por razões de segurança e prevenção. As consultas eram feitas via telefone, por videochamada ou por outros meios digitais. Quando reiniciámos a atividade assistencial programada, em abril, reorganizámos os circuitos e os procedimentos relacionados com a circulação dos utentes. Eu passava pelos serviços para ver como estavam as coisas a correr e por vezes havia filas. Ao contactar com alguns utentes para perceber a sua opinião, uma senhora disse-me que não percebia por que a mãe tinha de ir à consulta quando o médico de família falava com ela por telefone e às vezes até a via pelo computador. (...)

Leia a entrevista completa na TecnoHospital nº103, jan/fev 2021

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