ColorADD: o alfabeto das cores para daltónicos

O ColorADD nasceu da ideia de Miguel Neiva de construir a sua tese de Mestrado em Design e Marketing em torno da ideia de Design Inclusivo.

Partindo da premissa de que o design deve melhorar a qualidade de vida das pessoas, Miguel Neiva dedicou 8 anos à investigação de uma solução que eliminasse barreiras a quem convive com o daltonismo.

O seu trabalho envolveu oftalmologistas e daltónicos de diversos países, e tinha como objetivo chegar a 350 milhões de pessoas que, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, partilham a dificuldade de “entender” a cor, sempre que esta é fator determinante de identificação, orientação ou escolha.

Uma ferramenta com linguagem inovadora

O ColorADD surge, assim, como uma ferramenta com linguagem inovadora, simples e universal baseada no conceito de adição de cores, para garantir de um modo transversal e universal uma ferramenta capaz de minorar os constrangimentos e limitações dos daltónicos, sem que para tal tivessem de assumir a sua condição perante a sociedade. O objetivo era permitir ao daltónico independência aquisitiva, aumentar a sua autoestima e, consequentemente, permitir-lhe a execução de determinadas tarefas que até aí apenas poderiam ser feitas recorrendo à ajuda de terceiros.

Como escolher ou comprar uma peça de roupa? O que responder ao filho que pede o lápis verde para pintar a árvore? Como interpretar o mapa do metro se as linhas são representadas por cores? Como cumprir uma vocação profissional se todas estão ancoradas no domínio da cor?

Um estudo realizado com daltónicos de diversos países com o objetivo de entender quais as dificuldades que o daltónico tem de integração social e profissional, pelo facto de não identificar corretamente as cores, revelou a necessidade de criar uma ferramenta que permitisse uma melhor integração de uma percentagem significativa da população mundial. Mais de 90 por cento dos daltónicos necessita de ajuda para comprar roupa; mais de 40 por cento sente dificuldades de integração social; quase 50 por cento já sentiu constrangimento ou vergonha pelo facto de a cor escolhida, em diversas circunstâncias, não ser a melhor.

Esta necessidade foi o ponto de partida para a análise e estudo de diversos códigos/símbolos universalmente usados, concluindo-se que são a COR e a FORMA que garantem essa universalidade. Neste caso, a FORMA teria de garantir a função de identificar a própria COR.

Assim, a todo o processo e metodologia “desenhado”, apenas faltava um pressuposto. Miguel Neiva queria materializar este pressuposto em algo simples, nada constrangedor para o daltónico e que se integrasse rápida e facilmente no “vocabulário visual” de cada um.

Surge, então, a ideia de “recuperar” o conceito de adição de cores

Todos nós tivemos na escola uma caixa de guaches com as três cores primárias + branco e preto. Mesmo não identificando corretamente as cores, o daltónico aprendeu a misturá-las e “fazer” outras cores. Atribuindo a cada uma dessas três cores primárias um símbolo gráfico que a representasse, o daltónico apenas necessita de ser orientado para a cor.

Partindo do conhecimento adquirido, do mesmo modo que nos ensinaram a misturar o azul com o amarelo para obter o verde, este código permite conjugar o símbolo que representa o azul, associado a um símbolo que representa o amarelo, e desta forma identificar o verde.

O branco e o preto surgem para orientar as tonalidades claras e escuras. Deste modo, apenas com a memorização de cinco símbolos, o daltónico consegue orientar-se e identificar todas as cores.

Implementação

O ColorADD já é utilizado em mapas de Metro, etiquetas de roupa, material escolar, hospitais, catálogos, semáforos nutricionais, medicamentos, jogos, sistemas informáticos, ambiente ou parques de estacionamento, são já milhões de produtos espalhados por mais de 60 países – de Portugal ao Japão, passando pelos EUA, Alemanha, Canadá e, naturalmente, o Brasil, que desde a primeira hora se apresentou como um país muito sensível a esta causa. Existem no Brasil cerca de 10 milhões de daltónicos, pelo que Miguel Neiva assume como objetivo a formação de parcerias neste país.

Aplicações em Saúde

Na Saúde, o código tem já aplicações reconhecidas em congressos mundiais. Permite, por exemplo, que os médicos, em contexto de Bloco Operatório, possam escolher a seringa adequada com segurança, já que o código referencia a cor das etiquetas, presente nestes suportes, facilitando a identificação dos diversos tipos de anestésicos ou fármacos, um conforto que na prática diminui erros em ambientes de grande complexidade e stress.

Hoje, é possível a um daltónico percorrer o Hospital de S. João, no Porto, e facilmente interpretar a sinalética de orientação com total independência, cumprindo a tarefa de alcançar o serviço pretendido. Pode, do mesmo modo, antes de sair de casa, prever antecipadamente o Tempo Médio de Espera de um qualquer Centro de Saúde ou Hospital, em Portugal, consultando, para este fim, o Portal do Serviço Nacional de Saúde.

Ao entrar numa urgência, passará por um processo de triagem, com base no Protocolo de Manchester (sistema que classifica o grau de urgência do paciente, comunicado por 5 níveis de cor, do Vermelho/Emergente, até ao Azul/Não Urgente) isto depois de eventualmente ter estacionado o seu carro no parque do hospital, organizado por zonas de cor, e de ter deixado uma garrafa de plástico no contentor amarelo. Todo isto é hoje possível com total autonomia e conforto.

No Centro Hospitalar de Lisboa Central é possível a um daltónico reconhecer fármacos através de um sistema de identificação de cores. Esta unidade recorreu à inserção de um símbolo ColorADD nas seringas, adequado a cada cor/categoria de fármaco. Este modelo destina-se à aplicação nos blocos operatórios e unidades de cuidados intensivos, sendo facilmente adaptável à utilização nas enfermarias e serviços de urgências.

O Hospital da Luz, em Lisboa, por intermédio da sua concessionária, Sient, uma empresa de soluções de parqueamento, integrou o Código de Sinalética espacial no parque de estacionamento, melhorando a comunicação de um modo inclusivo.

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