A Nutrição na área dos Cuidados Continuados

A alimentação desempenha um papel de extrema importância na vida do doente, pois é detentora de funções não apenas fisiológica e psicológica mas também assente num significado emocional e simbólico que inclui valores culturais, sociais, religiosos e espirituais.

Assim, o acto de comer está associado a uma variedade de factores – saúde, sociais, psicológicos e ambientais. E a manutenção de um estado nutricional adequado tem de resultar da intervenção em todos estes factores, daí a importância da Nutrição também nesta faixa etária.

No final do século XX, início do século XXI, a Nutrição foi reconhecida como uma ciência importante no âmbito da saúde pública, em particular nas pessoas idosas. Com base no aumento da esperança média de vida, emergiu neste período a relação entre Nutrição e envelhecimento.

Segundo evidências epidemiológicas, é possível concluir que o risco de inúmeras patologias associadas ao envelhecimento pode ser minimizado por uma intervenção adequada ao nível dos estilos de vida, nomeadamente da alimentação/nutrição e actividade física.

As recomendações da Direção-Geral de Saúde relativas a uma alimentação saudável, completa e equilibrada, adequadas à população em geral, devem estar subjacentes à elaboração de qualquer regime alimentar, nomeadamente nos estabelecimentos que prestam cuidados de saúde como os Cuidados Continuados. Neste enquadramento, a RNCCI (Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados) adopta essas mesmas recomendações para garantir o cumprimento do objectivo de manter um estado nutricional adequado dos seus utentes.

A alimentação da pessoa idosa deverá ser completa, variada e equilibrada, pelo que se recomenda a inclusão de todos os diferentes grupos alimentares na sua dieta. O plano nutricional deverá ser elaborado por um profissional habilitado, nomeadamente um Nutricionista, e de acordo com as necessidades nutricionais e preferências alimentares do indivíduo. Igualmente importante será a combinação de uma dieta adequada com exercício físico adaptado e uma ingestão hídrica adequada. Não são aconselhadas dietas restritivas, de modo a prevenir estados de malnutrição e o declínio funcional associado às mesmas.

Em idade geriátrica, devido à evolução da doença de base, os doentes confrontam-se com inúmeras perdas ao nível da alimentação. Essas perdas poderão ir desde a incapacidade de sentir o sabor, deglutir, digerir os alimentos e absorver nutrientes de forma adequada até à perda da capacidade de o doente se auto-alimentar e de utilizar a via oral. Eventualmente, todas estas alterações poderão transformar as refeições num momento desconfortável e levar o doente à depressão, ao isolamento social, à perda de confiança e da auto-estima, à recusa alimentar e, consequentemente, à perda de peso e desnutrição.

A desnutrição pode ser genericamente definida como um desequilíbrio entre a ingestão alimentar e as necessidades nutricionais do organismo. Este desvio nutricional é um problema major de saúde pública, uma vez que tem alta prevalência entre a população idosa, variável de acordo com o cenário onde se enquadra o idoso, com maior expressão a nível hospitalar, e que está associado a diminuição da qualidade de vida e aumento do tempo de internamento, morbilidade e mortalidade, bem como a aumento dos custos em cuidados de saúde.

A desnutrição da pessoa idosa é muitas vezes subdiagnosticada, por ser confundida com sinais de envelhecimento, pelo que o seu reconhecimento precoce é fundamental para uma correcção adequada e atempada, com benefícios na saúde e na economia.

A abordagem da Nutrição na RNCCI tem como objectivos promover um estado nutricional adequado, prevenindo perda de peso e desidratação, bem como instituir medidas correctivas de intervenção nutricional que assegurem uma adequação do estado nutricional dos seus utentes, o que muitas vezes é um desafio clínico.

Alguns dados estatísticos internacionais apontam para que cerca de 10% dos utentes em cuidados de longa duração perdem > 5% peso em 30 dias e > 10% peso em 180 dias. Estimam também que possam existir carências vitamínicas, sendo comum a deficiência em vitamina D.

Nos cuidados de longa duração, como os Cuidados Continuados, existem causas conhecidas de declínio nutricional que devem ser avaliadas e corrigidas o mais precocemente possível, nomeadamente: depressão, ansiedade, doença cardíaca, A.V.C., diabetes, alterações da deglutição, problemas orais como a perda de dentição, anorexia relacionada com a idade, alterações sensoriais, dor aguda ou crónica, úlceras de pressão, demência, infecção, alterações da eliminação do padrão intestinal, preferências alimentares, fármacos que interferem com o apetite.

As consequências da má nutrição no idoso podem levar ao Síndroma de Fragilidade do idoso, com agravamento de morbilidades pré-existentes, menor actividade física devido a hipotrofia muscular pelo desuso, disfunção orgânica, relacionando-se também com risco de quedas, problemas cardiovasculares, menor capacidade de cicatrização secundária e imunossupressão, entre outras.

A avaliação e intervenção no estado nutricional assertivas e atempadas são, desta forma, factores determinantes de sucesso da intervenção em cuidados continuados. Um treino adequado de toda a equipa e a melhoria da comunicação interdisciplinar são factores subjacentes ao sucesso da intervenção.

Patrícia Costa, nutricionista

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