33 mil pessoas morrem todos os anos na Europa com bactérias resistentes

Um estudo do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo da Doença (ECDC) estima que a carga das infeções causadas por bactérias resistentes aos antibióticos na União Europeia e na Zona Euro, avaliada em 2015, é substancial quando comparada com outras doenças infecciosas, e tem registado um aumento desde 2007. A ECDC afirma a necessidade de uma estratégia europeia e global para fazer face ao problema, mas persistem assimetrias entre os países.

Segundo o estudo, cerca de 33 mil pessoas morrem todos os anos como consequência direta de infeções causadas por bactérias resistentes aos antibióticos e a carga dessas infeções é comparável à da influenza, tuberculose e HIV combinadas. Estes dados explicam também que 75 por cento da carga da doença fique a dever-se às IACS.

Dentro das resistências, o estudo demonstra que 39 por cento da carga da doença fica a dever-se às infeções causadas por bactérias resistentes a antibióticos de última linha, como os carbapenemes e colistina. A resistência a estes fármacos tem aumentado desde 2007, o que é especialmente preocupante dado tratar-se da última opção terapêutica.

O caso português

O estudo coloca Portugal numa situação alarmante no que respeita ao número de anos de vida perdidos ajustados pela incapacidade (DALYs), ou seja, as perdas de saúde devido a mortalidade/doença não fatal: 200 a 249 anos em 2015. A par de Malta, Portugal tem uma elevada carga de doença associada ao MRSA. Já na Irlanda, as bactérias E faecalis e E faecium resistentes à vancomicina foram responsáveis por uma proporção mais elevada da carga total, comparativamente com outros países. Em Espanha e na Eslovénia, a principal responsável é a S pneumoniae resistente aos antibióticos. A nível europeu, a carga mais significativa regista-se nas crianças com idade inferior a um ano e nas pessoas com mais de 65 anos, sendo mais elevada em Itália e na Grécia.

Para Lúcio Meneses de Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Infeção Hospitalar (APIH), os indicadores de saúde não se mudam “de um momento para o outro”. É necessário concertar esforços para colher resultados a prazo, concertação essa que, na visão do responsável, cabe à Direção-Geral de Saúde, através do Programa de Prevenção e Controlo  da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), estando a APIH disponível para colaborar nas iniciativas públicas e desenvolver iniciativas suas, quer nacionais quer em articulação com entidades internacionais.

Sobre estes dados, a Direção-Geral de Saúde entendeu por bem divulgar um esclarecimento referindo que os dados "apenas têm em consideração uma subamostra dos hospitais/UCCI portugueses, por imperativos de metodologia estatística, nunca devendo ser comparados os dados de Portugal com os restantes países da UE/EEE, uma vez que estes não estarão padronizados pelas diferenças existentes a nível dos vários sistemas de saúde europeus".

Prevenir e racionalizar recursos

A resistência aos antibióticos de última linha evidencia, para o presidente da APIH, a necessidade de uma prescrição mais criteriosa acompanhada de um reforço na investigação. O responsável reconhece, no entanto, que a investigação de novas moléculas nesta área não é tão atrativa como a praticada em torno das doenças não infecciosas, dado que, no caso das doenças infecciosas agudas, os cursos de tratamento são mais curtos.

Além disto, também Lúcio Meneses de Almeida atribui à prevenção, nomeadamente através da higienização das mãos, um papel primordial, que deve estar na ordem do dia sobretudo por parte de médicos e enfermeiros, mas deve envolver também as administrações e culminar no doente e em quem o visita.

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