Os cuidados primários na resposta à pandemia

A pandemia da COVID-19 constitui um ponto de inflexão social e político, obrigando os sistemas de saúde a uma profunda redefinição. Este acontecimento veio demonstrar a centralidade do Serviço Nacional de Saúde e a indispensabilidade dos seus serviços, ao mesmo tempo que se regista o maior desafio a que alguma vez foi sujeito, desde a sua criação em 1979, na medida em que a COVID-19 é um desafio sem precedentes. Não propriamente em termos da gravidade da doença, mas em termos das respostas organizadas em cada nação.
O impacto da COVID-19 na vida das pessoas e nas relações económicas, sociais e globais, tanto agora como no futuro, provavelmente será mais abrangente do que qualquer outra crise de saúde pública anterior. Nem mesmo durante a Primeira ou a Segunda Guerra Mundiais os governos sentiram a necessidade de fechar escolas. A aplicação de medidas de emergência em resposta à COVID-19 é incomparável em tempos de paz.
No momento em que este artigo foi escrito, o número global de óbitos por COVID-19 era pouco mais de 851.071, de um total de 25,5 milhões de pessoas infetadas, em 196 países e territórios. Em Portugal tinham morrido 1.824 pessoas das 58.243 infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde (DGS).
São números muito significativos. Mas, em comparação com anteriores pandemias ocorridas, o impacto físico até agora tem sido relativamente modesto. A epidemia de gripe de 1918 foi a mais destrutiva dos tempos modernos, levando a cerca de 40 milhões de mortes. Em 1968, a chamada gripe de Hong Kong (vírus H3N2) matou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo.
É importante assinalar que existe uma forte relação entre o evento da mundialização económica (a que se associou a afirmação da China como a segunda maior economia do mundo) e a difusão de doenças transmissíveis, na medida em que ocorreu um aumento exponencial dos vínculos que aquele país estabeleceu com o resto do mundo. Este facto tinha já sido demonstrado em novembro de 2002, pela epidemia de SARS-CoV, originária da China, que se espalhou para 26 países, com 8.098 casos confirmados e 774 mortes. (...)
Eunice Carrapiço, diretora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde Lisboa Norte, Rita Correia, vogal do Conselho Clínico e da Saúde do ACES Lisboa Norte, Sofia Theriaga, diretora executiva do ACES Estuário do Tejo, e Guilherme Ferreira, diretor executivo do ACES Lisboa Central
Artigo completo na TecnoHospital nº101, set/out 2020
Outros artigos que lhe podem interessar