Internamentos sociais aumentaram 11% em hospitais públicos
- 24 maio 2024, sexta-feira
- Gestão

Fotografia: Freepik
O Serviço Nacional de Saúde tinha, a 20 de março, 2 164 camas ocupadas com internamentos sociais, mais 11 por cento face ao mesmo período de 2023, com um custo de mais de 68 milhões de euros para o Estado.
Os dados, revelados na 8ª edição do Barómetro dos Internamentos Sociais (BIS), referem que àquela data, estes casos representavam 11,1 por cento do total de internamentos nos hospitais públicos, o denominado Índice de Inapropriação do Internamento, o que representa um aumento de 0,6 pontos percentuais, cerca de 5,7 por cento, face aos dados do anterior Barómetro.
Lisboa e Vale do Tejo e o Norte são as regiões com maior número de internamentos inapropriados, representando 80 por cento do total destes internamentos e 97 por cento do respetivo total de dias, revela o barómetro realizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), em parceria com a consultora EY Portugal, e com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e da Associação dos Profissionais de Serviço Social, que foi apresentado a 22 de maio no Centro de Reabilitação do Norte, em Valadares.
Considera-se internamento inapropriado todos os dias que um doente passa no hospital após alta clínica e não existe motivo de saúde que justifique a sua permanência em ambiente hospitalar.
Segundo o Barómetro apresentado, os internamentos inapropriados nos hospitais públicos aumentaram, bem como os custos associados a estes casos, que se explicam por atrasos na admissão para a Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI) e para Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI).
De acordo com os dados, a 20 de março de 2024 os internamentos sociais tinham um custo de mais de 68 milhões de euros para o Estado, mais 16 milhões face a março de 2023.
“Extrapolando este cenário para o conjunto do ano, os internamentos sociais inapropriados têm um impacto financeiro estimado superior a 260 milhões de euros”, salientaram os autores do barómetro em comunicado.
A demora média nacional por internamento inapropriado era de 175 dias, mais dois por cento, refere o estudo, indicando que no total houve 378 068 dias de internamento inapropriado (mais 13 por cento), “um número que espelha o elevado impacto deste fenómeno no prolongamento da ocupação das camas em ambiente hospitalar e a elevada espera por respostas para admissão a RNCCI e ERPI”.
A falta de resposta da RNCCI é a principal causa do número de internamentos sociais em todas as regiões, sendo que no Centro representa 74 por cento dos internamentos, seguido do Algarve (49 por cento) e do Alentejo (46 por cento).
Já a falta de resposta das ERPI tem maior impacto em Lisboa e Vale do Tejo (68 por cento), seguido do Centro (40 por cento) e do Algarve (38 por cento).
“Metade dos episódios e metade dos dias registados de internamentos inapropriados têm origem no serviço de Medicina Interna”, refere o BIS, salientando que 76 por cento dos episódios e 50 por cento dos dias destes internamentos são maiores de 65 anos.
O presidente da APAH, Xavier Barreto, lamenta no comunicado que “as sucessivas tentativas de resolução” deste problema não tenham surtido o efeito desejado, considerando que o que “falta, acima de tudo”, é “uma articulação de respostas entre os setores social e da saúde, que pense e articule as respostas com um todo”.
Para Xavier Barreto, “importa discutir o caminho a seguir” no âmbito do reforço das camas de retaguarda, na capacitação das famílias e da sociedade, “para lidarem com uma população tendencialmente mais idosa e mais dependente”, assinalando que ter “uma parte significativa das camas ocupadas” com estes casos “prejudica seriamente a atividade de todos os hospitais”.
O responsável pelo estudo, Miguel Amado, da EY Portugal, defende ser necessário “adotar uma abordagem consistente e multifacetada”, aumentando a disponibilidade de vagas em lares, na rede de cuidados continuados e noutras respostas sociais, para garantir “respostas integradas e eficazes entre os diferentes setores e entidades, desburocratizando os processos administrativos e investindo na rede de suporte aos cuidadores (informais)”.
“Transversalmente a todas estas medidas, urge adequar a legislação às necessidades da realidade de uma população envelhecida e que visem a sua proteção. Nesta matéria, as empresas podem ser parte integrada da solução”, contribuindo com o seu conhecimento e capacidade de resolução e promoção de melhores soluções, realçou.
Pela primeira vez, a presente edição do Barómetro considera os internamentos em hospitais psiquiátricos nos resultados do estudo, devido à recente reorganização do Serviço Nacional de Saúde e a generalização do modelo de organização em Unidades Locais de Saúde (ULS), tendo estes valores sido trabalhados separadamente e desconsiderados dos resultados finais em edições anteriores.
Esta edição considera dados dos hospitais psiquiátricos de 2022 e 2023 para efeitos comparativos.
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