Entrevista a António Correia de Campos

António Correia de Campos analisa as mais recentes alterações organizacionais na Saúde. O ex-ministro expressa dúvidas sobre a eficácia da generalização do modelo de Unidade Local de Saúde e critica a forma como a Direção Executiva foi criada, originando sobreposição de funções com outros órgãos centrais. O ex-governante, que agora integra um grupo de líderes mundiais da Saúde dedicado ao combate à resistência aos antimicrobianos, apela ao papel da engenharia e da arquitetura hospitalar na criação de soluções capazes de mitigar o problema.
Entrevista por Abraão Ribeiro, Fernando Barbosa e Cátia Vilaça | Fotografia: D.R.
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Já fui professor, investigador, consultor nacional e internacional, deputado nacional e europeu e presidente do Instituto Nacional de Administração (INA). Estive no governo duas vezes como secretário de Estado e duas vezes como ministro, tendo sido também presidente do Conselho Económico e Social (CES) entre 2016 e 2020. Fui convidado para suceder ao Professor Nogueira da Rocha no cargo de provedor do associado e do utente do SUCH. A par dessa função, desenvolvo atividade internacional, por nomeação de quatro agências das Nações Unidas (OMS, FAO, OMS Animal e Programa Mundial do Ambiente), com outros especialistas de várias partes do mundo, com base num secretariado quadripartido, para lutar contra um dos grandes flagelos dos próximos 10, 20 ou 30 anos, que é a resistência aos antimicrobianos.
Resulta do uso irregular ou inadequado de antimicrobianos, com consequências para as pessoas, para os animais e para o ambiente. É evidente que os antimicrobianos, em especial os antibióticos, têm de continuar a ser usados e há ainda milhões de habitantes no mundo sem acesso a eles, sobretudo nos países em desenvolvimento. Não podemos prescindir dos antimicrobianos de maneira nenhuma, e estamos muito limitados no pipeline da produção de antibióticos.
Esta fase dos trabalhos vai atingir o seu clímax na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, no dia 26 de setembro. Ao lado da Assembleia Geral vai ter lugar uma reunião técnica de alto nível para debater o problema e, provavelmente, aprovar uma declaração que será subscrita por um grande número de países disponíveis para lutar contra este enorme problema.
A resistência aos antimicrobianos é responsável, segundo dados de 2019, pela morte de cinco milhões de pessoas, das quais 1,3 milhões são mortes diretamente causadas pela resistência e 3,7 milhões são mortes associadas. Nestas últimas, haveria uma causa principal de morte, ou uma intervenção cirúrgica, e depois instalou- -se uma infeção que culminou na morte do utente. Esta é uma epidemia silenciosa, sendo hoje a terceira causa de morte no mundo, à frente do cancro. (...)
Leia a entrevista completa na TecnoHospital nº124, jul/ago 2024, dedicada ao tema 'Imagiologia – Parte II'
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