Desinfeção de águas hospitalares

A manutenção da segurança química e microbiológica da água hospitalar é um desafio para os engenheiros hospitalares, epidemiologistas, gestores hospitalares, bem como para outros profissionais de saúde. A água adequada para beber poderá ser inadequada para alguns fins hospitalares como: sistemas de hemodiálise, ensaios laboratoriais ou manipulação de medicamentos. Adicionalmente, o uso de água microbiologicamente contaminada poderá ser um foco de infeção pela:
i) Transmissão direta de aerossóis de água contaminada para os pacientes (aerossol de um chuveiro ou humidificador de sala; torre de refrigeração; inalação quando bebe água);
ii) Transmissão indireta por material que contatou com a água contaminada (material de banho e roupa de cama; uso de água não microbiologicamente segura para práticas clínicas);
iii) Exposição de implantes a água contaminada;
iv) Falha no controlo da qualidade da água para práticas de higiene, particularmente para a lavagem das mãos dos profissionais de saúde.
A formação de biofilmes
A água que circula em qualquer rede de distribuição está longe de constituir um produto puro e estável. Em termos microbiológicos, a densidade de microrganismos presentes na água aumenta tipicamente com o tempo de residência e a distância entre a estação de tratamento e o utilizador final. O crescimento microbiano nas condutas da rede de distribuição sob a forma de biofilmes é a principal causa de deterioração da qualidade da água distribuída, pois estes permitem a manutenção dos microrganismos em condições viáveis e são um local privilegiado para a sobrevivência de microrganismos patogénicos. No entanto, o controlo da formação de biofilmes em sistemas de distribuição de água potável não é uma tarefa fácil [1]. São muitos os fatores que influenciam a sua formação e estrutura, destacando-se: a presença/ausência de concentrações residuais de desinfetante, a presença/ausência de nutrientes, o pH, a temperatura, a velocidade de escoamento, as caraterísticas do material onde ocorre a adesão microbiana e as propriedades dos microrganismos. Em sistemas de distribuição de água, apesar do ambiente ser oligotrófico e existirem níveis residuais de desinfetante, a formação de biofilmes é inevitável.
Controlo da qualidade microbiológica da água
A desinfeção, através do uso de formulações contendo produtos germicidas, microbicidas ou bactericidas seguros para a aplicação desejada, é a estratégia convencionalmente usada para controlo da qualidade microbiológica da água. Na seleção de um produto desinfetante devem ser considerados diversos critérios: a eficácia nas gamas de pH e temperatura utilizadas, a estabilidade química quando diluído ou na presença de matéria orgânica (por ex. fluídos biológicos) e o espetro de ação antimicrobiana. Contudo, enquanto a inativação de microrganismos patogénicos é uma função primária, os desinfetantes também são usados no tratamento da água potável para várias outras funções: a minimização da formação de subprodutos de desinfeção; a oxidação de ferro e manganês; a prevenção do recrescimento no sistema de distribuição e manutenção da estabilidade microbiológica; a remoção de sabor, cor e odores através da oxidação química; a melhoria da eficiência de processos de coagulação e filtração; a prevenção do crescimento de algas. (...)
Artigo publicado na edição nº 94
Lúcia Chaves Simões, LEPABE, Departamento de Engenharia Química, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto
Manuel Simões, CEB, Universidade do Minho
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