Áreas críticas no hospital

FOTO PIRON GUILLAUME/ UNSPLASH
Todos os que vivemos quase uma vida agarrada a projetos da área hospitalar, fomos muitas vezes confrontados com perguntas complicadas.
- Então como andam os hospitais em Portugal? - e o que nos apetecia responder era:
- Não andam porque não têm rodas.
- Porque é que em Portugal os hospitais são predominantemente estruturas verticais com um monólito sobre o pódio? - e o que nos apetecia responder era:
- Porque assim os doentes ficam mais perto do céu.
- Porque é que em Portugal a maioria das enfermarias têm três camas? - e o que nos apetecia responder era:
- É para haver um "desempata" caso dois doentes se "envolvam".
Isto foi assim durante muitos anos, mas já não é.
Depois da publicação do livro Hospitals Design And Development de W. Paul James e William Tatton-Brown em 1986, com a sistematização gráfica de 10 estratégias morfológicas para hospitais, as coisas ficaram mais claras.
Já em 1975, a Editorial Gustavo Gili, S.A. tinha apresentando no seu PyP Proyeto y Planificación 44 plantas à escala 1: 2.000 para inspiração dos arquitectos. Mas, como me ensinou um professor, "até para copiar é preciso saber muito".
Vamos então começar pelo princípio, como se houvesse outra forma de começar. Vamos pelo exterior e depois entramos no hospital.
Os espaços exteriores
Existe, como é obvio, uma relação entre a área bruta de um hospital e o terreno que o vai acolher e também existe uma relação entre a lotação do hospital e o número de lugares de estacionamento. No presente momento, a relação cifra-se em 3 viaturas/ cama, com tendência para crescer.
Falando de espaços exteriores, não deixa de ser referência o que aconteceu há muitos anos no Hospital do Santo Espírito na Ilha Terceira. Face, na altura, à indisponibilidade de lugares de estacionamento, o pessoal do hospital parava as viaturas nos passeios e nas zonas ajardinadas. Os lancis existentes dos passeios e jardins foram substituídos por outros mais altos para resolver o problema de viaturas paradas em lugares indevidos. O que aconteceu é que o pessoal que teve possibilidade trocou os carros que tinha por jeeps, para ser mais fácil subir os lancis. Hoje, esse hospital já está aparentemente com um parque de estacionamento adequado.
Ainda sobre exteriores, o Estado, pela mão da DGIES, também teve uma situação, que recusou. Uma multinacional de equipamentos de desporto fez um pedido para atravessar pelas vias internas de um hospital, pois tinha dificuldade em chegar ao seu terreno, situação que teve de ser recusada porque o estacionamento é, como já vimos, uma área crítica.
Em outra situação no sul do país, uma câmara municipal propôs-se a ceder o parque de estacionamento de um estádio de futebol para parque de estacionamento do hospital vizinho, mas apenas nos dias em que não houvesse futebol…
Ainda a propósito dos espaços exteriores, o arquiteto que projetou o Hospital Distrital do Funchal decidiu que no exterior existiria um jardim com plantas medicinais, beladona e outras, onde o pessoal auxiliar pudesse levar os doentes em recuperação educativa. A ideia era generosa, ainda que ambiciosa. O que aconteceu é que o jardineiro não era muito versado em botânica e arrancou as plantas medicinais que não conhecia e substituiu-as por malmequeres e outras mais vulgares. Espero, assim, poder concluir que as áreas exteriores ao hospital são áreas críticas. (...)
Autor Francisco Teves
Arquiteto
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