Entrevista a Luís Campos, Presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente

Uma em cada quatro pessoas morre por fatores ambientais.

Os dados da Organização Mundial da Saúde são enfatizados por Luís Campos para sublinhar a importância do alinhamento entre políticas de Saúde e de Ambiente. O presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), associação nascida em outubro de 2022 para consciencializar para esta interrelação, afirma que ainda não se trata de uma prioridade política, apesar de em Portugal o setor da Saúde ser responsável por 4,8 % das emissões de gases com efeito de estufa (GEE), de acordo com a ONG Healthcare Without Harm. Falta também introduzir o tema nos currículos pré e pós-graduados, consciencializar e investigar, e aumentar a preparação para responder a novas pandemias ou catástrofes climáticas.

Para Luís Campos, o envolvimento dos profissionais de saúde no combate às alterações climáticas é uma “obrigação ética”. Além disso, o grau de confiabilidade destas profissões aos olhos do público justifica, para o dirigente, uma tomada de posição no sentido de alertar que não se trata de um problema de “jovens radicais”, antes algo muito mais transversal. Estas motivações levaram à fundação do Conselho e à criação de uma rede colaborativa das organizações relacionadas com a Saúde para reduzir a pegada ambiental do setor e também fomentar a literacia e aumentar a resiliência do sistema.

Entrevista por Cátia Vilaça, Abraão Ribeiro e Hugo Raposo | Fotografia: D.R.

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Sou médico internista, e atualmente sou presidente do CPSA. Sou também comissário do Plano Nacional de Saúde e presidente da Comissão de Qualidade e Assuntos Profissionais da Federação Europeia de Medicina Interna. Anteriormente fui responsável da área hospitalar do grupo de apoio ao Ministério da Saúde, fui presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, fui diretor do serviço de urgência do Hospital São Francisco Xavier e do serviço de Medicina. Fui consultor do Governo dos Açores e do Governo de Macau, fui coordenador nacional do Registo de Saúde Eletrónico, e presidente da Comissão Nacional de Qualidade durante oito anos. Sou fellow da Federação Europeia de Medicina Interna e fellow honorário do American College of Physicians. Recebi o Prémio Nacional de Medicina Interna em 2024.

No Relatório de Saúde e Ambiente 2024 [produzido pelo Observatório Português de Saúde e Ambiente e disponível para consulta no site do CPSA] é dito que a redução do impacto ambiental na Saúde não é ainda uma prioridade política. Tivemos iniciativas como o ECO.AP ou as compras públicas ecológicas, mas são programas da administração pública que acabam por abranger a Saúde. Mas depois há outras questões que parecem mais arredadas do debate: a descarbonização da cadeia de abastecimento, o impacto dos gases anestésicos, o uso e descarte de materiais, particularmente o plástico, o impacto dos medicamentos, etc. Dos contactos que têm tido com responsáveis políticos, existe consciência de que estes impactos existem e são significativos? Existe a consciência de que 4,8 % das emissões de GEE em Portugal vêm da Saúde?

Eu diria que começa a existir. É um caminho que tem acontecido nos últimos tempos. Mas na realidade temos de dar o salto. Não é só o problema da emissão e GEE, é a poluição dos plásticos, é a poluição química, que também é muito importante a partir do setor da Saúde. Para darmos esse salto, tem realmente de ser uma prioridade política e não é, ainda. O critério da sustentabilidade ambiental tem de estar em todas as políticas a todos os níveis.

A sustentabilidade ambiental tem de passar a ser uma dimensão da qualidade, tal como é a efetividade, como é a adaptação, como é a segurança, como é a eficiência. Temos de começar a introduzir a sustentabilidade ambiental no setor da Saúde nas dimensões da Qualidade. Depois temos de elaborar, publicar, implementar boas práticas de sustentabilidade ambiental em todos os setores da Saúde, quer no edificado, quer na área clínica - os gases anestésicos, a hemodiálise, o bloco operatório, os laboratórios de patologia clínica, a endoscopia, a cirurgia de catarata. Nós defendemos ainda que deveriam existir, em cada unidade hospitalar, serviços de sustentabilidade ambiental que apoiassem a implementação destas medidas noutros serviços.

O que nós vemos é que o setor privado está mais adiantado do que o SNS. No setor privado vemos assumir metas muito sérias de descarbonização, quer de impacto direto, quer mesmo de impacto indireto, ou seja, nas compras que fazem, enquanto no SNS o que existe é o programa ECO@SAÚDE [sucessor do Plano Estratégico do Baixo Carbono (PEBC) e do Programa de Eficiência Energética na Administração Pública (ECO.AP)], que não tem tido muitos resultados. (...)

Leia a entrevista completa na TecnoHospital nº 128, março/ abril 2025, dedicada ao tema "Gestão e análise do ciclo de vida dos equipamentos"

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