Legionella - Desafios para uma Prevenção Integrada

No contexto atual global, preocupações com as alterações climáticas, a escassez de recursos naturais (até há pouco tempo tidos como infinitos), o aumento da complexidade dos sistemas (também fruto da crescente urbanização) a par com o próprio envelhecimento da população, são alguns dos tópicos das agendas nacionais e internacionais (como os Sustainable Development Goals para 2030). Estas questões e também algumas das soluções que se apontam, como por exemplo a reutilização de água, terão um expectável crescente impacto na proliferação de Legionella (e também de outros patogénicos relacionadas com a água). Também no contexto Nacional, existe a recente Legislação (DL 52/2018[1]) que veio introduzir o fator responsabilização aos donos dos sistemas e observa-se uma crescente importância do tema da Legionella na sociedade com a ênfase na salvaguarda da saúde pública e da opinião pública. Estes cenários apresentam-se como forças-motriz únicas para que se desafiem os paradigmas mais tradicionalistas no que diz respeito à mitigação do risco de Legionella e se concretize uma prevenção cada vez mais integrada.

Este artigo, ao cruzar uma visão prática pessoal (no conceito e na aplicação), com as boas práticas preconizadas e as questões científicas relevantes, pretende apontar um conjunto de desafios habitualmente encontrados nesta tarefa contínua de estabelecer uma prevenção integrada. Estes desafios, são apresentados (e identificados ao longo do texto com o símbolo ‘#’) com o intuito de promover a reflexão e a discussão e não como uma fórmula mágica para prevenir Legionella em redes de saúde pública.

O ponto de partida: Pessoas- Água-Sistemas

É inegável que a prevenção de Legionella associada a redes de água potável em edifícios hospitalares (ou outros sistemas de água) é complexa. No entanto, abstraindo da complexidade e interdependência dos vários fatores inerentes à prevenção, e olhando estas questões de um ponto de vista mais abrangente, pode-se ver que as mesmas se articulam em torno de 3 ideias fundamentais: Pessoas – Água – Sistemas. A Água e os Sistemas assumem um papel paradigmático nesta tríade, uma vez que a primeira é um elemento essencial à vida e os segundos são concebidos numa perspetiva de servir (e dar conforto!) às pessoas. No entanto, tanto Água como os Sistemas são potenciais veículos causadores de doenças para as Pessoas podendo, em casos mais extremos, levar à morte. Por fim, terá ainda que se considerar que as Pessoas são, não só utilizadores e consumidores de Água e de Sistemas, mas também responsáveis (responsabilizáveis!) pela salvaguarda dos mesmos.

Assim, a questão que se coloca é como viver e conviver com a Legionella (ou outros elementos passíveis de causar doenças), repensando e implementando renovadas estratégias de prevenção que minimizem o risco de saúde pública e que possam tornar os sistemas mais resilientes e eficazes na sua função de servir (protegendo) Pessoas.

Do REAGIR ao PREVENIR

Usando a Legionella como mote para estabelecer os mencionados desafios convirá relembrar que este microrganismo é ubíquo, ou seja, está naturalmente presente na Natureza, e é quando entra nos designados sistemas artificiais de água (como torres de refrigeração, redes prediais, piscinas, etc) que encontra condições (como temperatura, nutrientes, zonas com estagnação, corrosão) para, em associação com biofilmes e/ ou protozoários crescer, proliferar, e atingir concentrações elevadas (comparativamente com as observadas na natureza). Se essa água com elevada concentração de Legionella for aerossolizada e inalada poderá então ter impacto na saúde das Pessoas. Será por isso utópico trabalhar numa ótica de erradicação da bactéria - se não está já no sistema, poderá entrar a qualquer momento! – tendo que se mudar o foco para uma abordagem preventiva onde o grande objetivo é minimizar o risco para Pessoas e Sistemas. (...)

Artigo publicado na edição nº 94

Ana Alexandra Pereira, Investigadora LEPABE/ FEUP

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