Reconfigurar o Serviço Nacional de Saúde

Por outro lado, entre as diversas vertentes que aborda, descreve-nos várias conquistas alcançadas e projetos realizados, que vale a pena conhecer.

Sob o título “O Hospital Pós Pandemia”, o Engº José Graça Rocha, especialista na área de projeto de instalações técnicas especiais, traz-nos ao conhecimento as questões técnicas que se levantaram, na situação pandémica que vivemos, para garantir a eficácia das instalações e dos equipamentos, elencando algumas das principais preocupações.

Da experiência vivida durante este atribulado período, entende premente, entre outras, introduzir alterações ao nível das instalações e equipamentos.

Como reflexão, propõe a revisão da regulamentação e normas técnicas existentes relativas ao projeto hospitalar, sugerindo a reunião de uma equipa pluridisciplinar que integre especialistas de arquitetura e engenharia da saúde, a fim de coligir informação existente e produzir um documento técnico sobre as melhorias a considerar nas futuras remodelações e novas construções hospitalares.

“Desafios e Oportunidades da Transformação Digital no SNS” é o tema abordado pelo Eng. José Carlos Nascimento, Professor na Universidade do Minho.

Um interessante artigo, da autoria deste especialista em Sistemas de Informação da Saúde – SIS, que nos dá a conhecer as linhas da transformação digital em Portugal e na Europa, os desafios emergentes do SI, afirmando que a transformação digital na Saúde não é “informática” … e que a mudança num ecossistema tão complexo tem de ser governada… pela gestão de topo, que no caso, é o Ministério da Saúde.

Finalmente, um artigo intitulado “Que perspetiva para o Serviço Nacional de Saúde”, da autoria da Dra Teresa Gago, Médica Dentista com mestrado em Neurociências e doutoramento em Saúde Pública, que nos traça uma panorâmica geral do SNS, da sua relevância, confirmada em tempo pandémico, mas também das suas fragilidades e dos ataques a que tem de resistir.

Neste artigo, que merece também leitura atenta, a autora propõe um conjunto de 10 medidas nucleares que visam contribuir para o robustecimento do SNS, de que destacamos a criação de um gabinete permanente dedicado ao planeamento plurianual e conceção/avaliação e estatísticas bem como de acompanhamento das instalações e equipamentos da saúde…

A breve amostragem - acima apresentada - dos cinco artigos que compõem o dossiê, é apenas um ligeiro levantar do véu e prenúncio dos ricos conteúdos, cuja leitura nos irá, certamente, surpreender e enriquecer.

Como segundo tema central desta edição, temos a entrevista que gentilmente nos concedeu o Engenheiro António Costa Silva, Gestor e Professor do IST, em que nos relata o seu perfil pessoal e profissional, a sua ligação a Angola, onde nasceu e viveu vários e intensos anos, abordando a crise sanitária que atravessamos e, naturalmente, o Plano de Recuperação e Resiliência – PRR, de que é autor.

A este propósito, realça a enorme importância do SNS como fator de coesão que deve ser valorizado, considerando-o a joia da coroa da democracia portuguesa, ao mesmo tempo que menciona, com especial ênfase, os Investimentos na Área da Saúde, até aqui em suborçamentação, havendo agora a necessidade de reconfigurar todo o SNS.

Entre muitos outros importantes aspetos que aborda, afirma que a administração pública tem fraca capacidade de planeamento, tendo muitos serviços de planeamento sido desintegrados, devendo agora ser recuperado o planeamento estratégico ao nível dos serviços do Estado, sendo a Saúde uma excelente área para começar.

Mais acrescentou esperar que a engenharia tenha aí um papel absolutamente fulcral e decisivo, …, afirmando ainda que … há uma relação umbilical entre a saúde e a engenharia e que o cruzamento da engenharia com a medicina é um dos vértices do desenvolvimento da economia neste século.

Houve tempo ainda para falar de corrupção, de modelos de descentralização da execução … e tantos outros importantes temas, imbuídos de visão estratégica, que só a leitura atenta da entrevista nos irá revelar.

Desta edição TH104, faz ainda parte um excelente artigo, extra dossiê, intitulado “A Saúde Pública em tempos de pandemia”, da autoria do conceituado Administrador Hospitalar aposentado Dr. Meneses Correia, cuja leitura recomendamos.

E embora esta calamidade, sob a forma de pestilência pandémica, nos continue a assolar, surgem também algumas alegres notícias, como seja o leque de articulistas e colaboradores que nos acompanham neste projeto editorial, de que destacamos e saudamos o regresso do nosso colaborador regular, Dr. Paulo Salgado, com um interessante texto prenhe de reflexões e algumas interrogações, a que deu o título “Pandemia e Condição Humana”.

Com este primeiro precioso texto, decidiu a Direção e o Conselho de Redação da Revista –TH dar início a uma nova secção, intitulada, precisamente, Reflexões, ficando, desde já, os nossos leitores e colaboradores convidados (e desafiados!) a enviar as suas reflexões, interrogações, ou respostas a estas.

Por fim, mas não menos importante, temos a habitual rubrica Crónicas da Última Página, com a assinatura do Consultor Editorial da TecnoHospital, Engº Fernando Barbosa, a que deu o título “A República do bom senso”, por contraponto a outras imaginárias Repúblicas que, às vezes, por aí assomam.

Editorial da TecnoHospital nº104, mar/abr 2021, dedicado ao tema 'A resposta do SNS à pandemia e os desafios do futuro'