Entrevista a António Vieira Pires

Entrevista por Abraão Ribeiro, Fernando Barbosa e Cátia Vilaça

Fotografia por Cátia Vilaça

Fale-nos um pouco do seu percurso.

Nasci no Alentejo, em Mora, e estudei no liceu em Lisboa. Fiz Medicina no Hospital de Santa Maria, tendo-me especializado em Medicina Geral e Familiar e em Saúde Pública. Foi na base da Saúde Pública que me interessei muito pela Gestão Hospitalar e pela gestão de centros de saúde, porque em Saúde Pública estamos quase todos ligados aos Professores de administração hospitalar. Isso leva-nos efetivamente a uma motivação maior para esta área.

Como veio para Castelo Branco?

A minha mulher, que também é médica, é de Penamacor e os meus filhos foram lá registados, embora tenham nascido em Lisboa. Começámos os dois a execercer Medicina em Penamacor, sob autorização do então Diretor-Geral de Saúde, Dr. Lopes Dias. Depois vim para o Hospital de Castelo Branco, fiz serviço médico à periferia também em Penamacor e fiz Medicina Militar. Posteriormente regressei a este hospital, e na altura de escolher decidi que não queria sair daqui. Só havia uma vaga de Otorrino e outras de Medicina Geral e Familiar. Optei pela Medicina Geral e Familiar, cuja especialidade fiz posteriormente. Como estávamos muito tempo à espera dos concursos, decidi concorrer à Escola de Saúde Pública, onde recebi ensinamentos de todas as áreas - Medicina do Trabalho, Estruturas Hospitalares e outras. Tinha professores de áreas distintas, e isso entusiasmou-me. Quando regressei da Escola de Saúde Pública vim para o Centro de Saúde de Castelo Branco, onde estava colocado, e os colegas decidiram votar em mim para ser diretor do centro de saúde. Foi assim que começou a minha vida dentro da Administração.

A partir daí fui convidado para o cargo de Vogal Médico da então Administração Regional de Saúde de Castelo Branco. Não havia esta divisão que há agora em cinco regiões, já que cada distrito tinha uma região. Entretanto convidaram-me para Presidente da Administração Regional de Saúde de Castelo Branco, que antes era Administração Distrital dos Serviços de Saúde. Mas depois passou a Administração Regional de Saúde de Castelo Branco, e fui ali presidente durante vários anos. Já estou aqui há oito anos, em funções de gestão pura. Não faço sequer Medicina, embora tivesse feito de início.  

Sobre o modelo de gestão, era de facto utópico chamar-se Administração Regional de Saúde a uma estrutura destas. Não era uma região, não administrava quase nada, a única coisa que tinha era Saúde. O Dr. Delfim Rodrigues, à data Diretor-Geral de Saúde, entendeu que aquilo não se justificava precisamente por não se tratar de uma região e não haver autonomia administrativa. Estávamos sempre dependentes da tutela para qualquer coisa de que precisássemos, apesar de resolvermos os assuntos normalmente. O Dr. Delfim reuniu as administrações regionais e o secretário de Estado Martins Nunes, e demonstraram que o modelo não se justificava. Então passámos de Administradores Regionais de Saúde para coordenadores da sub-região de Saúde, algo que já fazia sentido, e constituíram-se as cinco ARS. Aquando da criação da coordenação da sub-região de Saúde de Castelo Branco, já dependíamos da ARS Centro. Tínhamos um orçamento limitado e não havia autonomia financeira, e hoje não acontece isso. Nós temos grande autonomia, apesar de as pessoas considerarem insuficiente, porque falta-nos autonomia ao nível dos recursos humanos. Precisamos de alguns médicos e enfermeiros, mas sobretudo de assistentes operacionais, e não é possível recrutá-los porque temos uma cláusula no Orçamento Geral do Estado que não nos permite aumentar o número de efetivos. Temos neste momento 1281 efetivos e não podemos aumentar. Podemos contratar mas não podemos ultrapassar os 1281, ou seja, só contratamos em caso de aposentações.

Refere-se ao hospital ou à unidade toda?

À unidade toda.

Um aumento do número de utentes não permite aumentar os recursos humanos?

Infelizmente não temos esse aumento por causa da demografia. Os dados demográficos não nos são favoráveis. Inclusivamente este ano prevemos ter menos 31 nascimentos.

A nível nacional a tendência tem sido ao contrário…

Na Guarda, Portalegre e Castelo Branco isso não acontece de certeza absoluta. Vamos ter uma diminuição do número de nascimentos. Claro que estamos a meio do ano, mas prevemos isto de acordo com o número de grávidas que já temos a ser acompanhadas. De facto houve, o ano passado e há dois anos, um pequeno aumento, mas as pessoas só casam e constituem família em locais onde haja trabalho. Não vale a pena andarmos com utopias baseadas em subsídios, é perda de tempo. É preferível dar benefícios fiscais para se montar uma empresa e haver trabalho ou até ceder o terreno. As câmaras têm de utilizar essa política, de contrário não dá.

Também é condição, normalmente, a escola e a saúde, e isso existe.

Efetivamente em Castelo Branco há tudo – ensino superior, com o Politécnico e a universidade a meia hora, na Covilhã. Temos ensino de música, boas escolas, dois bons colégios. A Saúde também tem cobertura através de 88 polos.

Há quantos anos foi criada a ULS?

Foi criada em 2010, numa segunda vaga. A primeira foi em Matosinhos.

Como está organizada a unidade?

Somos cinco na gestão de todo o hospital e dos centros de saúde. O presidente do conselho de administração não tem de ser médico. É preciso é que saiba gestão e conheça o funcionamento quer do hospital, quer do centro de saúde. Neste momento, eu sou concomitantemente diretor clínico dos centros de saúde. Tenho uma diretora clínica hospitalar, tenho uma administradora hospitalar, tenho um enfermeiro diretor, e desde há dois anos tenho um representante da Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa.

A administração está toda concentrada no hospital?

Também há um diretor do Agrupamento de Centros de Saúde, e nós nunca fazemos nada sem um diálogo com o ACES. Em cada centro de saúde há um coordenador determinado através do seu diretor executivo e do Conselho de Saúde. O Presidente do Conselho de Saúde também opina em relação às decisões dos centros de saúde e até dos polos de saúde.

Como funciona o Conselho de Saúde?

O Conselho de Saúde dos ACES é um órgão que ainda vem da legislação antiga e é escolhido entre os médicos, e o presidente é um médico. Temos também o Conselho Consultivo, cujo presidente é o Gen. Ramalho Eanes, que conta com pessoas de várias áreas: tem um representante da Segurança Social, um da ARS, um representante dos utentes, ou seja, representantes de toda a comunidade praticamente, que ali opinam sobre o que gostariam de ver fazer, fazem sugestões e essas sugestões são respeitadas dentro da possibilidade da tutela. Os médicos aposentados também integram esse órgão. (...)

Entrevista completa publicada na edição nº 94 da TecnoHospital

Newsletter TecnoHospital

Receba quinzenalmente, de forma gratuita, todas as novidades e eventos sobre Engenharia e Gestão da Saúde.


Ao subscrever a newsletter noticiosa, está também a aceitar receber um máximo de 6 newsletters publicitárias por ano. Esta é a forma de financiarmos este serviço.