Consumo de antibióticos em Portugal baixou 20% nos primeiros nove meses do ano

  • 18 novembro 2020, quarta-feira
  • Gestão

Segundo dados do Infarmed, a dispensa de antibióticos nas farmácias comunitárias baixou 20 por cento entre janeiro e setembro deste ano, com menos 1,2 milhões de embalagens relativamente ao período homólogo.

Os dados foram revelados na data em que se assinala o Dia Europeu do Antibiótico e numa altura em que o Infarmed, a Direção-Geral da Saúde e o Instituto Nacional de Saúde estão a promover uma campanha alargada no âmbito da Semana Mundial dos Antibióticos.

Segundo a informação da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), nos primeiros nove meses do ano foram dispensadas nas farmácias comunitárias menos 1.249.637 embalagens de antibióticos do que em igual período do ano anterior.

Assim, a média de embalagens de antibióticos dispensada nas farmácias passou de 17,46 doses diárias definidas por mil habitantes por dia (DHD) para 13,97 DHD.

De acordo com os dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, Portugal voltou a ficar abaixo da média europeia em 2019, tanto a nível hospitalar como no consumo em meio ambulatório.

Portugal é ainda referido como o único país, para além da Noruega, onde a redução do consumo de carbapenemes (classe de antibióticos que é muito importante preservar, uma vez que é considerada terapêutica fim de linha em infeções graves) foi considerada estatisticamente significativa entre 2010 e 2019.

“À semelhança do que se verificou no ano passado, foi enviada informação específica aos médicos e farmacêuticos de todo o país e materiais para colocação nas unidades de saúde e farmácias comunitárias”, sublinhou o Infarmed.

O objetivo, acrescenta, é “continuar a incentivar o uso adequado dos antibióticos, tendo em conta que o arsenal terapêutico pouco tem sido reforçado nos últimos anos e que os atuais medicamentos estão em risco de perder a sua eficácia face ao crescimento das resistências bacterianas”.

Estudo: Três em cada quatro portugueses aceita tomar antibióticos e 14% recusa

Três em cada quatro inquiridos num estudo nacional disseram que aceitam tomar antibióticos, a maioria por prescrição médica, enquanto 14 por cento afirmaram que o recusam fazer mesmo quando o medicamento é receitado pelo seu médico.

Divulgado também hoje, Dia Europeu do Antibiótico, o inquérito “Consumo de antibióticos”, realizado pelo Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica para o Grupo de Infeção e Sepsis (GIS), visou apresentar “um retrato inédito sobre os hábitos e comportamentos das famílias portuguesas face aos antibióticos, avaliando também a sua perceção sobre os riscos da sua incorreta utilização”.

Em declarações à agência Lusa, o presidente do GIS adiantou que o estudo procurou encontrar grupos e mensagens úteis para melhorar a consciencialização da sociedade sobre a utilização dos antibióticos e “a resistência aos antimicrobianos que é uma área complicada neste momento para a medicina e um problema que se tem agravado muito”.

“Entendemos que não é um problema só limitado à prescrição médica e toda a sociedade em conjunto tem um papel importante a desempenhar”, disse Paulo Mergulhão, acrescentando que o objetivo do estudo foi também “identificar áreas estratégicas para intervir de forma mais dirigida”.

Segundo o estudo, 73 por cento dos inquiridos declararam tomar antibióticos, dos quais 76 por cento só o faz por prescrição médica, 13 por cento disseram nunca ter tido necessidade de tomar e 14 por cento recusam fazê-lo mesmo que seja receitado pelo médico.

Para Paulo Mergulhão, este último dado indica que “continua a haver problemas de comunicação entre as pessoas e os seus médicos assistentes” porque mostra que “não confiam naquilo que o médico lhe diz ou manda fazer”.

Considerou, contudo, “uma boa mensagem” o facto de uma “grande proporção da amostra”, que envolveu 1.778 pessoas com 15 ou mais anos de todo o país, dizer que “só toma antibióticos com prescrição médica”, uma vez que a “utilização desregulada” deve ser evitada “a todo o custo”.

O inquérito também deu a perceber “um bocadinho melhor” onde ocorre a prescrição dos antibióticos. Cerca de 60 por cento são em consultas de ambulatório, 19 por cento em consultas de emergência, 14 por cento em consultórios de dentistas e sete por cento durante internamentos hospitalares.

Segundo Paulo Mergulhão, estes resultados apontam para as áreas que “podem ser alvo de intervenções específicas de modular e de melhorar a prática de prescrição de antimicrobianos”.

O inquérito revela também que 45 por cento dos participantes tomou estes medicamentos no último ano e apenas 15 por cento não o fez nos últimos cinco anos.

Cerca de dez por cento tomou no último mês, uma percentagem que Paulo Mergulhão considera “enorme” e que indica que provavelmente há sobre prescrição de antibióticos em muitos contextos.

“Há uma proporção muito grande de pessoas que por falta de informação certamente reporta que os antibióticos servem para tratar todo o tipo de infeções, independentemente de serem bacterianas ou víricas”, sublinhou.

Exemplificou que “não adianta nada tomar um antibiótico para tratar uma gripe”, porque é uma infeção viral e não bacteriana: “isso é uma perceção que vamos ter que nos esforçar para mudar”.

Para 40 por cento dos participantes, a duração do tratamento é o mais importante, enquanto que 27 por cento considera que a informação mais importante são os efeitos secundários.

São os mais idosos e, em particular, os homens que dão mais importância à duração do tratamento. As mulheres dão também grande atenção a esta dimensão e aos efeitos secundários, mas tal como os mais jovens atribuem maior importância à interação dos antibióticos com outra medicação”, refere o estudo.

Dois terços dos inquiridos declara seguir a prescrição até ao final e apenas nove por cento diz que deixa de tomar o antibiótico logo que se sente melhor, sendo, no entanto, este valor muito maior nos homens do que nas mulheres e nos mais jovens do que nos mais idosos.

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