IPO de Lisboa gasta 175 mil euros em medicamentos por dia

  • 14 fevereiro 2023, terça-feira
  • Gestão

Mais de 175 mil euros é a despesa média diária com medicamentos no Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPO de Lisboa), que totalizou cerca de 64 milhões de euros em 2022, representando um “peso bastante grande” no orçamento da instituição, segundo a presidente da instituição.

A presidente do IPO de Lisboa, Eva Falcão, afirmou que a despesa com medicamentos continua a ter “um peso bastante grande no IPO” e que o seu crescimento “tem que ser o mais controlado possível”, revelou em entrevista à agência Lusa.

Em 2019, a rubrica com medicamentos representou 46 milhões de euros, valor que subiu para 53 milhões em 2020 e para 64 milhões de euros no ano passado.

“Em 2022, cremos que o valor será bastante aproximado”, disse Eva Falcão, comentando que “num orçamento de perto de 190 milhões euros, 64 milhões em matéria de despesa com medicamentos é um peso grande”.

A nova presidente do IPO de Lisboa, que assumiu o cargo há seis meses, tendo substituído o oncologista João Oliveira, defendeu que têm, “cada vez mais, serem exigentes em relação à inovação e escrutinadores em relação aos tratamentos”.

Eva Falcão recordou, a este propósito, as declarações recentes da diretora-geral da Direção-Geral de Saúde da Comissão Europeia, Sandra Gallina, no aniversário do Infarmed sobre um movimento europeu para se avaliar o verdadeiro valor da inovação e o que é realmente inovação, e cada vez mais ter um conjunto de países europeus debruçado sobre as questões da sustentabilidade no acesso ao medicamento.

“O acesso ao medicamento é fundamental, mas esse acesso tem que ser sustentável”, assim como a “inovação necessita de comprovação”, defendeu Eva Falcão, que já exerceu funções como administradora hospitalar no Hospital de Santa Maria, depois no Hospital Pulido Valente e no Hospital Garcia de Orta e foi chefe de gabinete da ex-ministra Marta Temido.

Segundo a administradora, o que se sente no IPO é que o alargamento das indicações terapêuticas de moléculas já conhecidas também fomenta o aumento da despesa, bem como o facto de tratarem mais doentes.

“Há programas de acesso precoce ao medicamento inovador que depois deixam de ser financiados e representam uma grande fatia de despesa”, explicou.

Recursos humanos e instalações

Sobre os grandes desafios e apostas do seu mandato, a administradora referiu os recursos humanos.

“Até ao final do mandato será uma das nossas apostas, motivar os profissionais a tentar que este sentimento que encontrámos no IPO de pertença a uma determinada instituição, que é especial, que trata uma doença especial, seja cada vez mais fomentado para que as pessoas sintam aqui um projeto de realização profissional e também pessoal”, declarou.

Por outro lado, a qualificação das instalações é uma necessidade, sendo um dos “grandes objetivos” a construção do novo edifício do ambulatório e reafirmar “o IPO como uma entidade de referência na prestação de cuidados de saúde, no ensino e na investigação”.

No final da semana passada, foi lançado o procedimento de aquisição do projeto de arquitetura para a construção do novo edifício, com um valor estimado de dois milhões de euros, que marcará o lançamento da operação da sua construção no ano que o IPO Lisboa vai celebrar o seu centenário.

Eva Falcão salientou que a construção deste edifício é “uma aspiração bastante antiga” e “é essencial” porque o IPO tem 19 edifícios dispersos.

“Um edifício moderno, de raiz, permitirá a melhoria das condições de atendimento e acolhimento dos doentes e também de trabalho dos profissionais”, disse, assegurando que vão desenvolver todos os esforços, respeitando todos os prazos legais, para que seja construído “no maior curto espaço de tempo possível”.

A obra será projetada para ocupar uma área superior a 24 mil metros quadros, do lado nascente no IPO Lisboa.

Mais de 59 mil pessoas recorreram a uma primeira consulta em 2022

Mais de 59 mil pessoas recorreram a uma primeira consulta no IPO de Lisboa em 2022, mais 13 por cento relativamente a 2019, ano antes da pandemia, aumentos também registados na consulta externa e cirurgia.

Segundo os dados provisórios, foram realizadas no ano passado 59 384 primeiras consultas, mais 6 850 face a 2019 (+13,04 por cento), e 309 376 consultas externas, mais 33 894 (+12,3 por cento).

Em relação às intervenções cirúrgicas, Eva Falcão disse que houve um aumento de 11,4 por cento face a 2019, ano em que foram realizadas 6 678 cirurgias, número que subiu para 7 436 em 2022.

“A atividade cirúrgica cresceu com bastante expressão no hospital neste ano de 2022”, disse, salientando que, com o recrutamento de 129 enfermeiros desde o verão, houve a possibilidade de abrir no último trimestre do ano passado mais sete salas do bloco operatório.

No final de 2019, existiam 1 905 doentes em lista de espera para cirurgia, número que baixou para 1 647 no ano passado (-15,7 por cento), sendo a mediana de espera atualmente de 1,51 meses (1,91 em 2019).

O número de utentes que aguardavam cirurgia há mais de um ano também caiu de 169 em 2019 para 81 no ano passado.

Já no que respeita os utentes operados dentro dos Tempos Máximos de Resposta Garantidos (TMRG), no ano antes da pandemia foram operados 4 279 utentes (61,2 por cento do total) e em 2022 foram 4 449 (60,6 por cento).

O crescimento na área da consulta e da cirurgia obriga ao crescimento nas restantes áreas, tais como os tratamentos de quimioterapia e radioterapia.

Os dados indicam que foram realizadas, em 2022, 41 194 sessões de quimioterapia, mais 6 051 comparativamente a 2019, e menos 9 186 tratamentos de radioterapia, que totalizara 71 814.

Para esta quebra de tratamentos de radioterapia contribuiu a falta de radioncologistas, bem como serem tratamentos mais demorados e mais complexos, explicou.

A radioterapia é “um exemplo paradigmático” da saída de profissionais: “sentimos que as pessoas abraçaram projetos de trabalho no setor privado”.

Além da radioterapia, a saída de médicos também se tem sentido noutras “áreas pontuais”, mas em relação aos enfermeiros há “um movimento algo inverso”.

“Se é verdade que o hospital estava muito deficitário em termos de pessoal de enfermagem, quando cá chegámos, notamos agora que os enfermeiros têm saído de outras instituições, muitas delas privadas para regressar, nalguns casos, ou para vir abraçar este desafio do IPO”, salientou Eva Falcão.

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