Falta de tempo e receio de litígio na origem de subnotificação dos profissionais de saúde

  • 02 janeiro 2018, terça-feira
  • Gestão

A falta de tempo e o medo de repercussões legais são apontadas como dois dos principais entraves à notificação de reações adversas a medicamentos por parte de profissionais de saúde em Portugal, de acordo com o estudo “Farmacovigilância na União Europeia: Implementação prática nos Estados Membros”, desenvolvido por Michael Kaeding, especialista em políticas europeias e professor na Universidade de Duisdburg-Essen, com o apoio da biofarmacêutica AbbVie.

A falta de tempo é descrita pelos autores do estudo como particularmente crítica em meio hospitalar, onde médicos e enfermeiros estão sobrecarregados. A escassez de recursos, que resulta de cortes orçamentais feitos na sequência da crise económica que o país viveu, está na origem desta situação, pelo que os autores do estudo consideram haver necessidade de alocar mais meios financeiros para reduzir a carga de trabalho dos profissionais de saúde e, consequentemente, aumentar a possibilidade de notificação de reações adversas.

O medo de repercussões é outra das causas apontadas no estudo para explicar a subnotificação, uma conclusão a que os autores chegaram após a realização de entrevistas. De acordo com os autores, mesmo que os profissionais de saúde estejam alerta para a importância de notificar as reações adversas e tenham tempo, podem ter receio de o fazer por questões legais. Para que os profissionais de saúde não tenham receio de notificar, o estudo recomenda algumas medidas, como o aconselhamento jurídico e o reforço da confidencialidade.

A falta de sensibilização também contribui para a subnotificação, alerta o estudo. Segundo a análise, muitos profissionais não estão informados sobre a sua obrigação legal de notificar ou não estão sensibilizados para a importância de notificar todas as reações, e não apenas as graves ou inesperadas. Nesta matéria, o estudo recomenda a obrigatoriedade de aulas sobre a importância da farmacovigilância e a necessidade da notificação de reações adversas para todos os estudantes de Medicina e Farmácia. Os autores recomendam ainda formação adicional, mesmo após a universidade, para todos os profissionais de saúde e gestão hospitalar.

Os autores do trabalho alertam sobretudo para a falta de sensibilização no caso dos medicamentos biológicos, salientando que muitos profissionais de saúde não estão alerta para a necessidade de reportar os números de lote, informação essencial para a rastreabilidade dos biológicos. Os autores defendem ainda a criação de regulamentação própria para os biológicos que, pelas suas características e pela complexidade do seu modo de desenvolvimento e produção, devem ser vistos como um desafio especial para a farmacovigilância.

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