Entrevista a Júlio Reis

Júlio Reis tem décadas de experiência em gestão hospitalar. Acompanhou a criação do Serviço Nacional de Saúde e integrou a comissão instaladora de vários hospitais. A esta distância, olha para o que foi construído e para o que poderia ser melhorado em prol do atendimento aos doentes.
Entrevista por Abraão Ribeiro, Fernando Barbosa, Durão Carvalho, Paulo Salgado e Cátia Vilaça | Fotografia por Abraão Ribeiro

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Tenho 84 anos. Sou do tempo da II Guerra depois andei na Guerra Colonial e agora estou presenciando outra guerra. Preocupa-me a situação atual.

Os meus pais eram economicamente humildes e, por isso, só me puderam proporcionar condições para tirar o Curso Comercial, na Escola Brotero de Coimbra.

Obtido o curso, trabalhei numa empresa de automóveis, mas como o ordenado era pequeno, resolvi voltar a estudar, e assim, como voluntário, fiz os sete anos do liceu e depois o curso de Direito, que terminei em 1969. Antes, fiz quatro anos e meio de tropa, tendo passado por Angola, na guerra, embora não tenha completado a comissão por ter tido um acidente. Isto em 1962. Nesta altura trabalhava na Comissão Inter-Hospitalar de Coimbra e, quando acabei o curso de Direito, o diretor, Dr. Baptista de Abreu, convidou-me para o cargo de administrador do hospital da Covilhã, da Misericórdia local, cidade onde fiquei cerca de seis anos, embora com intermitências: um ano como advogado, dois anos de curso de administração hospitalar (o primeiro em Portugal), mas trabalhando no hospital, e cerca de dois anos na Madeira, a pôr o novo hospital a funcionar, que substituiu o velho hospital dos Marmeleiros, a pedido do Dr. Augusto Mantas, então Diretor-Geral dos Hospitais. O novo hospital foi inaugurado em princípios de 1974, pelo Américo Thomaz, aproveitando a sua vinda à Madeira para inaugurar uns hotéis. Foi uma azáfama enorme, com picarescos episódicos, mas tudo acabou em bem, com o tradicional beberete. (...)

O Dr. Júlio Reis, enquanto membro da Comissão Instaladora dos grandes hospitais da Universidade de Coimbra, foi inovador na área da gestão. Criou, inovou e deu força àquilo que então designou as áreas de administração. A esta distância, o que se lhe oferece comentar tendo em conta as várias experiências que entretanto aconteceram na vida dos hospitais ao nível da gestão, e que culminaram naquilo que hoje temos, por exemplo os Centros de Responsabilidade Integrada e outras áreas de administração que agora existem?

Quando o hospital estava a ser construído, uma das críticas que se faziam é que era um monstro, uma estrutura que não seria governável, e realmente assustava, um hospital com mais de 1270 camas só no bloco central, porque depois, com a maternidade e o hospital de Celas, ultrapassava as 1600 camas. Criei a possibilidade de organizar o hospital pelas chamadas áreas de administração. Eram áreas intermédias de gestão entre o conselho de administração e os serviços. Aglutinavam-se vários serviços de acordo com a sua natureza e a situação que ocupavam no espaço e dava-se autonomia de gerir, dentro do possível, aqueles serviços com um administrador.

A ideia era resolver, a nível intermédio, muitas das questões de gestão dos serviços. Dividi o hospital em várias zonas de administração. Coloquei um administrador em cada uma dessas áreas para, pelo menos dentro daquilo que a lei me permitia, trabalhar juntamente com os diretores dos serviços daquela área na feitura do orçamento anual dos serviços, nas contas, no desenvolvimento desse orçamento. A ideia era resolver problemas urgentes sem estar à espera que o conselho de administração desse autorização para comprar, por exemplo, uma torneira, passe a caricatura. Tinha essas coisas todas definidas para aligeirar os aspetos negativos de uma volumetria tão grande e com tanta gente.

Foi uma inovação, funcionou mais ou menos neste hospital mas nunca foi um modelo que se conseguisse implementar em todos os hospitais. Começou a haver reações dos diretores dos serviços tradicionais, que viam no administrador uma espécie de fiscal, já que também estava incumbido de fazer alguma gestão de pessoal e ver como as coisas corriam. (...)

Leia a entrevista completa na TecnoHospital nº110, mar/abr 2022, dedicada ao tema 'A engenharia biomédica'

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